domingo, 26 de novembro de 2017

Irão, Dasht-e Kavir, o grande deserto salgado


Alguém bateu à porta da Bem-Amada, e uma Voz lá de dentro perguntou:
- Quem está aí?
E ele respondeu - Sou eu.
A Voz então disse:
- Esta casa não conterá nós dois.
E a porta continuou fechada. Então o Amante foi para o deserto e na solidão jejuou e orou. Retornou depois de um ano e bateu novamente à porta. E de novo a Voz perguntou:
- Quem é?
E o Amante respondeu:
- És tu mesma!
E a porta lhe foi aberta.

Rumi (Mestre Sufi do sec. XII)

sábado, 25 de novembro de 2017

torres do silêncio, Yazd, Irão


As Torres do Silêncio (também conhecidas como Cheela Ghar ou Dakhma) são construções em forma de torre circular que possuem usos e simbologias funerárias para os adeptos do zoroastrismo, uma religião fundada na antiga Pérsia pelo profeta Zaratustra, a quem os gregos chamavam de Zoroastro, sendo considerada a primeira religião monoteísta.
Algumas das suas concepções religiosas, como a crença no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um Messias, viriam a influenciar o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. 

Zaratustra foi um sacerdote ariano que viveu por volta de 600 a.C. e o zoroastrismo era uma versão reformada da fé ariana, que acentuava o princípio do dualismo – o eterno conflito entre o criador Ahuramazda e o seu adversário Ahriman, entre o bem e o mal, a verdade e a falsidade.

O Zoroastrismo acredita que a morte é um triunfo temporário do mal sobre o bem. Correndo dentro de corpo morto (nasu), há uma divindade, um demônio (Natu Daeva) que contamina tudo em que entra em contato, como a carne, cabelo, unha e ossos e que por isso um corpo morto é tão imundo que pode poluir tudo que toca. Existe um conjunto de regras, para descartar o cadáver da forma mais segura possível. Como os elementos naturais: terra, ar e água são sagrados, os cadáveres não podem ser enterrados ou atirados à água. A cremação também é proibida, porque o fogo é a origem direta da divindade Natu Daeva.

O funeral inicia-se com a lavagem do cadáver com a urina de um touro, feita por pessoas conhecidas como nasellares, algo como “cuidadores da imundice”. Uma vez “limpo”, o corpo é depositado numa espécie de altar de pedra iluminado por uma fogueira para ser inspecionado por um “Saglid”. Um cão, que segundo a crença é capaz de farejar a presença de maus espíritos capazes de se alojar nos restos mortais. O Saglid seria capaz de detectar qualquer impureza presente, o que tornaria necessário lavar novamente o corpo até ele estar purificado. O cão é trazido no mínimo cinco vezes ao longo de três dias. Apenas depois disso, o cadáver pode ser levado (à luz do sol) para um dakhma.

Os corpos são então expostos às aves de rapina e, assim, devorados num último acto de caridade e os seus espíritos podem viajar, levados pelos raios do sol. Mais tarde, descarnados e esbranquiçados, os ossos são lançados num poço existente no centro das torres de Silêncio, onde é adicionado cal para permitir que eles se desintegrem gradualmente. A prática de exposição dos mortos ao sol, conhecido como dokhmenashini, foi documentada pela primeira vez em meados do século 5 por Heródoto, mas o uso de torres apenas se verificou muito mais tarde, no início do século 9.
As torres são razoavelmente uniformes na sua construção, tendo um telhado quase plano, com o perímetro a ser ligeiramente maior do que o centro. O teto é dividido em três anéis concêntricos: Os corpos dos homens estão dispostos em torno do anel exterior, as mulheres no segundo círculo, e as crianças no anel central interno. Os fluidos saídos dos corpos são escorridos em canaletas e passam por diversos filtros com carvão e areia, antes de serem eventualmente despejados em lugar especifico, abaixo das torres.
A antiga prática sobreviveu entre os zoroastristas ortodoxos no Irão até que os dakhmas foram declarados uma ameaça à saúde e se tornaram ilegais na década de 1970. Ainda é praticada na Índia, por pessoas conhecidas como ‘parsi‘, que constituem a maior população de zoroastristas no mundo. A urbanização das cidades tem colocado pressão sobre os parsis  e dificuldades em continuar com o ritual da utilização das dakhmas para a desintegração dos corpos, mas a maior ameaça à dokhmenashini, não sãoas autoridades de saúde ou dos protestos de pessoas e ONGs, mas sim a falta de abutres.
Os abutres desempenham um papel importante na desintegração dos corpos, porém, a população destas aves tem diminuído na Índia desde os anos 1990. Descobriu-se que uma droga administrada no gado era fatal para os abutres que se alimentavam das carcaças. A droga foi proibida pelo governo indiano, mas a população de abutres ainda está longe de ter recuperado. Sem abutres, foram instaladas em algumas Torres do Silêncio, concentradores de raios solares para acelerar a desintegração dos corpos.
Tais concentradores solares têm o efeito colateral de afastar outras aves que se alimentavam dos corpos, como os corvos, devido ao calor extremo nas torres. Também não funcionam durante os dias nublados e chuvosos. Assim, uma "operação" que levaria apenas algumas horas para um bando de abutres, leva  agora semanas. Os corpos em lenta decomposição acabam por trazer muitos problemas para a área circundante devido ao cheiro exalado pelas torres e muitas tiveram que ser extintas.
O termo “Torre do Silêncio” é um neologismo atribuído a Robert Murphy, que em 1832, foi um tradutor a serviço do governo colonial britânico na Índia. Este termo nunca foi uma tradução literal, e sim uma forma "poética" usada para traduzir o nome do lugar. No Irão, antigamente, o islamismo proibia a dissecação de cadáveres, uma vez que esta era considerada uma forma de mutilação. Como não havia cadáveres para estudo disponíveis para as escolas de medicina, os corpos eram roubados dos dakhmas, causando indignação da comunidade zoroastrista.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Dasht-e Kavir, Irão


The world is like an eye, a beard, a spot of beauty and eyebrow, Where each thing is neatly in place.

Hafez, Poeta Persa  (1315-1390), Shiraz

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Praça Jemaa el-Fna, Marraquexe, Marrocos


Na praça Djemaa el Fna, o vibrante centro mágico de Marraquexe são contadas histórias para o halqa - os ouvintes que se reúnem para ouvir contos transmitidos por gerações de contadores de histórias, histórias que reúnem e perpetuam as tradições e a magia de Marrocos.

Em maio de 2001, a UNESCO honrou essa tradição cultural e ajudou a consolidar sua preservação quando proclamou a atividade criativa em Djemaa el Fna como "obra-prima do patrimônio oral e intangível da humanidade". A falta de estruturas institucionais, no entanto, significa que tais formas de arte tradicional em Marrocos, como em muitos outros países, estão em uma situação bastante precária.

Os contadores de histórias de Djemaa el Fna muitas vezes "desfiam" seus contos a um ritmo tremendo, mas é sempre no dialeto marroquino, destinado a uma audiência local que está disposta a reunir-se noite após noite na praça iluminada, aguardando ansiosamente a próxima parcela da história do dia anterior .

Jardin Majorelle, Marrakech


Era dali. Iria a lugar nenhum porque nunca se levaria por completo. Nunca iria.

Valter Hugo Mãe in "Homens Imprudentemente Poéticos"

Alcoi, "entre moros i cristians"


DIFÍCIL ÉS DONAR UN NOM A CADA COSA... 

Difícil és donar un nom a cada cosa 
mentre els camins resulten pedregosos i infausts.
Mire el paisatge august dels conreus profitosos
i sols recullc un poc de mots elementals:
poma, pruna, taronja, tomaca i albergínia
i un etcètera patri d’altres fruits naturals.
Del blau mediterrani: lluç, tonyina, llobarro,
clòtxina, déntol, sípia, sardina i calamar.
L’ampla geografia del país és nutrícia,
com l’antiga deessa de malucs i pits grans.
Versaires que la canten cauen al dèdal pànic
pel polícrom barroc que els atorrolla el cant.
De bell nou tornarem al clam admiratiu
amb un intent feréstec d’ésser originals.

Joan VALLS JORDÀ, Obra poètica, Ed. Instituto de Estudios Alicantinos, Alacant, 1981.

Bassin Ménara, Marraquexe, Marrocos


Originalmente, o "lago" foi criado para irrigar o grande olival dos jardins de Ménara. Actualmente ainda cumpre esta função, como no seu início, há mais de 700 anos, transportando a água das montanhas do Atlas distantes 30 kms. Os jardins foram plantados pela dinastia Almohad.

Tolomddima, Madagáscar



(...) há outras que são simplesmente pessoas, e se calhar isso é o mais pernicioso do mundo, de todas as galáxias conhecidas e desconhecidas, o facto de sermos pessoas.

Afonso Cruz in "Nem Todas as Baleias Voam"