quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Castanheiros milenares, Serra de Arada, Portugal


(...) quando eu estiver para morrer não me tragam um padre, não permitam que me toque ou se ponha a rezar ao pé de mim. Quando eu morrer quero garantir que não vou para o céu."

Valter Hugo Mãe in "A Máquina de fazer Espanhóis"

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Cerejeira em flor, Talasnal, Lousã, Portugal


(...) a humanidade inventa deus porque não acredita nos homens.

Valter Hugo Mãe in "A Máquina de fazer Espanhóis"

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Companhia Portuguesa do Cobre, Porto


PORTUGAL

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir
como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira que o Infante
D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns eletrochoques e está a recuperar
aparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiros dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
como me pude eu apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram nada de ressentimentos
Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga
ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional
Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca

Jorge Sousa Braga in "De manhã vamos todos acordar com uma pérola no cu".

Companhia Portuguesa do Cobre, Porto


A própria destruição, que parece aos homens o termo das coisas, não é senão um meio de atingir, pela transformação, um estado mais perfeito, porque tudo morre para renascer, e coisa alguma se torna em nada.

Allan Kardec

sábado, 13 de setembro de 2014

Mesquita Sheikh Zayed, Abu Dhabi


João Lucas Marcos Mateus tinha as mãos cheias de alfaces plantadas e de açoites nos cães. Os nós dos seus dedos pareciam os cotovelos de Isabel e o cheiro que trazia era como o de Deus. Deus cheira a touro, a terra e ao ventre das coisas.

Afonso Cruz in "Jesus Cristo bebia cerveja"

S Jacinto, Portugal


Os livros são criados por letras sagradas. Tal como o são os anjos. há quem diga. Deste ponto de vista, através da janela da Cabala, digamos, um anjo não é mais do que um livro a que foi dada a forma celeste... a que foram dadas asas (...)

Richard Zimler in "O último cabalista de Lisboa"

Serra de Arada, Portugal


A nascente desaprova quase sempre o itinerário do rio.

Jean Cocteau

Londres, Canary Wharf


O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas. Assim se insinua nos hábitos com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem se querer, como um veneno dado. Não dói, não descora, não abate – mas a alma que dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu veneno, que é ela mesma. 

Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'

Boca do Rio, Almádena


Caravana


A violência é o alimento e a bebida dos traiçoeiros.

Richard Zimler in "O último cabalista de Lisboa"

domingo, 7 de setembro de 2014

Sagres, Porto da Baleeira


“Que infelicidade. Os dias esticam e ficam mais longos, o relógio diz que não, mas, com licença, o que sabem os relógios sobre a alma humana? Não sabem nada, Alá me perdoe. O tempo demora mais a passar, muito mais, é assim que se sofre. Quando se está feliz esse mesmo tempo passa a correr, parece que vai atrasado para uma festa, mas, se vê uma lágrima, pára e fica a ver o acidente, dá voltas à nossa desgraça e não anda para a frente como os relógios dizem que ele faz.”

Afonso Cruz in "Para onde vão os guarda-chuvas"