segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Praia de Esmoriz


Os sonhos voam como as traças e põem ovos nos móveis, nas roupas, nas ombreiras das portas, em todo o lado. E desses ovos nascem mais sonhos, que são como as traças que põem ovos em todo o lado

Afonso Cruz in "Jesus Cristo bebia cerveja"

sábado, 29 de novembro de 2014

Praia de S Pedro de Maceda


Nunca me canso de olhar para o céu, porque é dos poucos lugares onde o homem ainda não consegue mexer.

Carlos A. Carneiro in "Nunca é Tarde"

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Ria de Aveiro


Quando se ama já não se ama ninguém

Marcel Proust in "Em Busca do Tempo Perdido"

serra da Lousã


PÉRGOLA

Assim despida rente ao mar
só de longe em longe se

vêm enredar em cada uma
das suas colunas as flores

brancas da espuma

Jorge Sousa Braga in "Porto de Abrigo"

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Árvore na serra da Lousã...


FIM

- Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos berros e aos pinotes -
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas.

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andalusa:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro...

Mário de Sá Carneiro

Porto, Companhia Portuguesa do Cobre


A própria destruição, que parece aos homens o termo das coisas, não é senão um meio de atingir, pela transformação, um estado mais perfeito, porque tudo morre para renascer, e coisa alguma se torna em nada.

Allan Kardec

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Castanheiros milenares, Serra de Arada, Portugal


(...) quando eu estiver para morrer não me tragam um padre, não permitam que me toque ou se ponha a rezar ao pé de mim. Quando eu morrer quero garantir que não vou para o céu."

Valter Hugo Mãe in "A Máquina de fazer Espanhóis"

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Cerejeira em flor, Talasnal, Lousã, Portugal


(...) a humanidade inventa deus porque não acredita nos homens.

Valter Hugo Mãe in "A Máquina de fazer Espanhóis"

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Companhia Portuguesa do Cobre, Porto


PORTUGAL

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir
como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira que o Infante
D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns eletrochoques e está a recuperar
aparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiros dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
como me pude eu apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram nada de ressentimentos
Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga
ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional
Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca

Jorge Sousa Braga in "De manhã vamos todos acordar com uma pérola no cu".

Companhia Portuguesa do Cobre, Porto


A própria destruição, que parece aos homens o termo das coisas, não é senão um meio de atingir, pela transformação, um estado mais perfeito, porque tudo morre para renascer, e coisa alguma se torna em nada.

Allan Kardec

sábado, 13 de setembro de 2014

Mesquita Sheikh Zayed, Abu Dhabi


João Lucas Marcos Mateus tinha as mãos cheias de alfaces plantadas e de açoites nos cães. Os nós dos seus dedos pareciam os cotovelos de Isabel e o cheiro que trazia era como o de Deus. Deus cheira a touro, a terra e ao ventre das coisas.

Afonso Cruz in "Jesus Cristo bebia cerveja"

S Jacinto, Portugal


Os livros são criados por letras sagradas. Tal como o são os anjos. há quem diga. Deste ponto de vista, através da janela da Cabala, digamos, um anjo não é mais do que um livro a que foi dada a forma celeste... a que foram dadas asas (...)

Richard Zimler in "O último cabalista de Lisboa"

Serra de Arada, Portugal


A nascente desaprova quase sempre o itinerário do rio.

Jean Cocteau

Londres, Canary Wharf


O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas. Assim se insinua nos hábitos com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem se querer, como um veneno dado. Não dói, não descora, não abate – mas a alma que dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu veneno, que é ela mesma. 

Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'

Boca do Rio, Almádena


Caravana


A violência é o alimento e a bebida dos traiçoeiros.

Richard Zimler in "O último cabalista de Lisboa"

domingo, 7 de setembro de 2014

Sagres, Porto da Baleeira


“Que infelicidade. Os dias esticam e ficam mais longos, o relógio diz que não, mas, com licença, o que sabem os relógios sobre a alma humana? Não sabem nada, Alá me perdoe. O tempo demora mais a passar, muito mais, é assim que se sofre. Quando se está feliz esse mesmo tempo passa a correr, parece que vai atrasado para uma festa, mas, se vê uma lágrima, pára e fica a ver o acidente, dá voltas à nossa desgraça e não anda para a frente como os relógios dizem que ele faz.”

Afonso Cruz in "Para onde vão os guarda-chuvas"

quinta-feira, 24 de julho de 2014

domingo, 13 de julho de 2014

Torreira, Ria de Aveiro


(...)
É urgente um barco no mar.
(...)

Eugénio de Andrade in "Urgentemente"

Castanheiros milenares, Serra de Arada, Portugal


Dantes não era cega das orelhas e ouvia tudo - diz a avó - Ouvia a lareira e sabia distinguir o som da oliveira do da azinheira. Porque elas queimavam com sons diferentes. Gritam coisas diferentes. E andava pelos campos e sabia que havia muitos tipos de flores, umas eram apenas mudas enquanto outras eram moucas. Umas só sabiam ouvir  e outras só sabiam falar. São assim as flores. É preciso conhece-las.

Afonso Cruz in "Jesus Cristo bebia cerveja"

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Lalibela, Etiopia, Igreja de S Jorge.


(...) Then I made a promess
To stop and stay put
As cypress legs do
I sunk mine like a root (...)

Afonso Cruz, in "A COFFIN FOR TWO", The Soaked Lamb

quinta-feira, 10 de julho de 2014

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Serra da Estrela


Peguei na serra da estrela
para serrar uma cadeira
e apanhei um nevão
numa serra de madeira.
(...)

Luísa Ducla Soares

sábado, 5 de julho de 2014

Lalibela, Etiópia


Porque a realidade só se forma na memória.

Marcel Proust in "Em Busca do Tempo Perdido, Vol 1"

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Unhais da Serra, Portugal


Não se prende o amor com pregos, ao coração. Daí a fragilidade.

Gonçalo M Tavares in "A Perna Esquerda de Paris"

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Unhais da Serra, Portugal


Certas Paisagens altas e mal formadas
são idênticas a prateleiras mal presas à parede,
carregadas de objectos de peso expressivo, ávidas
por demonstrar o conhecimento que têm de certas leis
da física que quando caem na cabeça magoam.

Gonçalo M Tavares in "Uma Viagem à Índia" Canto I, 74

Aldeia Hamer, Turmi, Etiópia


Para renascer é preciso ter morrido antes. 
Contudo, é vivendo que caminhamos para a morte.

Haruki Murakami in "1Q84" livro 3

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Serra de Arada


Pois nada no mundo é claro
a não ser ele mesmo, o mundo, para os imbecis.

Gonçalo M Tavares in "Uma Viagem à Índia" Canto V, 94

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Mercado, Lalibela, Etiópia


(...)
Mas a paisagem não é uma coisa
que possa ser corrigida por cidadãos
bem equipados, a paisagem é que te corrige.
É a terra que te come, e não
o inverso.

Gonçalo M Tavares in "Uma Viagem à Índia" Canto III, 36

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Turmi, Etiópia


Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.

Platão

domingo, 22 de junho de 2014

Recolhendo água. Gorgora, Etiópia


Se a tranquilidade da água permite reflectir as coisas, o que não poderá a tranquilidade do espírito?

Chuang Tzu

terça-feira, 17 de junho de 2014

Amanhecer em Arba Minch, Etiópia


O que será ser só
Quando outro dia amanhecer
Será recomeçar
Será ser livre sem querer (...)

Chico Buarque in "Abandono"

domingo, 15 de junho de 2014

Taxis "Lada", Addis Ababa, Etiópia


De fora, chegam-nos em vagas os odores combinados do café a torrar e da queima do incenso.

Manuel João Ramos in "Histórias Etíopes

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ria de Aveiro


O mar é o modo exagerado de a água não ser tímida.

Gonçalo M Tavares in "A Perna Esquerda de Paris"

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Serra de Arada


Na Neblina

Estranho caminhar na neblina!
Solitários estão os arbustos e as pedras.
As árvores não se veem entre si,
todas estão sozinhas.

Cheia de amigos era minha vida
quando a vida me era leve.
Agora que cai a neblina,
não me resta ninguém.

Ninguém alcança a sabedoria
se não conhece a escuridão
que silenciosa e inevitável
de tudo nos separa.

Estranho caminhar na neblina!
Viver é solidão.
Ninguém conhece ninguém,
todos estamos sós.

Herman Hess

quinta-feira, 5 de junho de 2014

S Jacinto, estaleiros


The Rope

Their voices still wake me
as I woke for years to that rise and fall,
the rope pulled taut between them.

both afraid to break or let go.
Years spilled on the kitchen table,
picked over like beans or old bills.

What he owed to the mill, what she wanted
for him. Tears swallowed and hidden
under layers of paint, under linoleum rugs,

new piled on old, each year the pattern
brighter, costlier. The kids
he would say, if it weren't for

She'd hush him and promise
to smile, saying This is what
I want, this is all I ever wanted.

Patricia Dobler

Viana do Castelo


Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia

Pedro Homem de Mello

terça-feira, 3 de junho de 2014

Ilha do Sal, Cabo Verde


Nenhuma máquina tem potência para ser feliz. Não há electricidade assim tão pouco exacta.

Gonçalo M. Tavares in " A Perna Esquerda de Paris"

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Minas do Pintor - sinto-me sózinha...


Estou sozinha mas não me sinto só.

Aomame in "1Q84, Livro 3", Haruki Murakami

Ria de Aveiro


Cais

Ténue é o cais
no Inverno frio.
Ténue é o voo 
do pássaro cinzento.
Ténue é o sono
que adormece o navio.
No vago cais
do balouço da bruma
ténue é a estrela
que um peixe morde.
Ténue é o porto
nos olhos do casario.
Mas o que em fora nos dilui
faz-nos exactos por dentro.

Fernando Namora, in 'Marketing'

sábado, 31 de maio de 2014

Minas do Pintor


Para mim, o órgão do fotógrafo não é o olho (ele assusta-me), é o dedo: aquilo que está ligado ao disparar da objectiva, ao deslizar metálico das placas (quando o aparelho ainda as utiliza). Gosto desses ruídos mecânicos de uma forma quase voluptuosa, como se, da Fotografia, eles fossem precisamente aquilo - e unicamente aquilo - a que o meu desejo se agarra , quebrando, com o seu estalido seco, a mortalha da pose. 

Roland Barthes in "A Câmara Clara"

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Cortegaça


(...) Cada pessoa julga sempre
que o tédio é propriedade sua, e que os outros têm dias
carregados por uma carroça magnífica. (...)

Gonçalo M. Tavares in "Uma Viagem à Índia", Canto II, 109

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Barrinha de Esmoriz


"Parecia tão absurdo. Tão fútil como polir lenha para a lareira"

Arundhati Roy in "O Deus das Pequenas coisas"

terça-feira, 27 de maio de 2014

Areinho, Ria de Aveiro


Um Reino tão fascinante que não tinha rei.

Gonçalo M. Tavares in "Roland Barthes e Robert Musil"

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Oliva, S João da Madeira


Deito coisas vivas e mortas no espírito da obra.
Minha vida extasia-se como uma câmara de tochas.

Herberto Helder in "A Faca Não Corta o Fogo"

domingo, 25 de maio de 2014

Ria de Aveiro


Pensar é
colocar seis
gotas de
demónio
num bom
pedaço de
santidade.

Gonçalo M. Tavares in "Roland Barthes e Robert Musil"

sábado, 24 de maio de 2014

Ria de Aveiro


Certos homens transmitem epidemias de segredos: os poetas.
Gonçalo M. Tavares in "A Perna Esquerda de Paris"

A IMAGEM E A MEMÓRIA


Fusão como mistura. Mistura que funde intrinsecamente os elementos e os confunde. Mistura de vários objectos que formam um só... Fusão do trabalho de três fotógrafos num trabalho fotográfico único. Fusão da fotografia com a musica que em conjunto evoca e recria o espaço e o ambiente que procura retratar.

Fusão como transformação de um estado noutro. Passagem de uma a outra coisa. De sólido a liquido. Como todas as "passagens" este é um instante fugaz.
Passagem da Oliva da actividade à inactividade.
Evolução tecnológica da fotografia - imagens captadas de forma analógica, impressas digitalmente.

A fotografia eterniza um momento fugaz. Quando algo é fotografado deixa imediatamente de ser a mesma coisa para passar a ser já outra. A fotografia é sempre o passado congelado, daí a sua colagem ao significado de "memória", e a memória é, sabemos isso muito bem, pessoal e dificilmente transmissível. Terá sempre porções que apenas nos pertencem, que não se traduzem em palavras, que surgem tão repentinamente como assim de repente desaparecem. Simultaneamente nunca estamos certos do que recordamos pois o próprio acto de recordar transforma essa mesma recordação. Assim, nós somos o que memorizamos e o que de nós é memorizado.

Cada um que num determinado momento da sua vida, como trabalhador ou como visitante, passou pela Oliva, construiu a sua própria memória daquele espaço naquele tempo, única e inimitável, memória essa que nós queremos agora fazer reviver. E como as memórias também se constroem, mesmo aqueles que nunca lá estiveram poderão construir as suas memórias de um espaço e de um ambiente que já não existe.

Luís Veloso

sexta-feira, 23 de maio de 2014

"Ponto de Fusão" Exposição de José Vaz e Silva, Luís Veloso e Rui Apolinário, S João da Madeira


Parece que a sabedoria teima em reaparecer como os fungos. A gente pinta a parede, mas não adianta, pois não? O fungo reaparece, como a sabedoria.

Afonso Cruz in "Jesus Cristo bebia cerveja"

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Oliva, S João da Madeira


Toda a fechadura é um sinal de fracasso da humanidade.

Gonçalo M. Tavares in "A Perna Esquerda de Paris"

Ria de Aveiro


Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam os seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar

Herberto Helder in "A Faca Não Corta o Fogo"